Exposições

MANOEL VEIGA: NATUREZA ENTRÓPICA

De: 15/03/2025 a 04/05/2025

A exposição Manoel Veiga: natureza entrópica, realizada na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra em Piracicaba, propõe uma reflexão sobre a relação entre arte, ciência e os processos naturais que regem o universo. A partir de um conjunto de obras que abrangem diferentes fases de sua produção, Manoel Veiga apresenta uma investigação visual e conceitual da qual podemos visualizar a ideia de entropia — não apenas como um princípio termodinâmico, mas como uma força criativa que permeia tanto o microcosmo do ateliê quanto o macrocosmo do universo.

A entropia, frequentemente associada à desordem e à degradação, é reinterpretada por Veiga como um processo de transformação e reorganização. Diferentemente da maioria dos pintores, ele não cria suas imagens com pincel, mas utiliza as próprias dinâmicas físicas e químicas dos elementos. Nessas pinturas, o artista não busca controlar estritamente o resultado final, mas trabalhar junto com as forças naturais — como difusão, gravidade, densidade dos pigmentos e temperatura ambiente — criando um diálogo com estes elementos de maneira a constituir suas imagens. Dessa forma, é importante ressaltar que, embora as forças naturais desempenhem um papel crucial na construção da obra, Veiga mantém-se como o sujeito principal de execução e criação. 

Na série Matéria escura, Veiga explora a entropia de maneira conceitual, ao remover as figuras humanas das pinturas de Caravaggio e deixar apenas os panejamentos como vestígios de uma presença ausente. Essa ausência não é um vazio, mas um espaço preenchido pela abstração das formas e pelo jogo de luz e sombra. O título da série faz referência à matéria escura, substância invisível que compõe grande parte do universo, reforçando a ideia de que o que não vemos pode ser tão significativo quanto o que vemos. Em Espectros, sua série mais recente, Veiga retoma as imagens de Matéria Escura e realiza intervenções sobre elas usando sua pintura entrópica tradicional, criando uma fusão entre o figurativo e o abstrato. Já na série Hubble, Veiga leva sua pesquisa para o campo da tecnologia e da ciência. Utilizando imagens capturadas pelo telescópio espacial Hubble, o artista recria essas visões do cosmos através de edição de imagem, usando ferramentas baseadas em cálculos matemáticos. 

Em todas as suas obras, Manoel Veiga desafia a noção tradicional do artista como único criador. Em vez disso, ele assume também o papel de um mediador (médium), permitindo que as forças naturais e os processos entrópicos atuem como “coautores” de suas pinturas. Essa abordagem redefine a relação entre arte e natureza, colocando o humano não como centro, mas como parte integrante de um sistema maior e em constante transformação. Suas obras não representam a natureza; elas são a própria natureza em ação. As tramas complexas que surgem nas telas remetem a padrões encontrados em fenômenos cósmicos, como constelações e nebulosas, sugerindo uma conexão intrínseca entre o seu processo artístico e as dinâmicas universais.